por prof. Dr. Vinícius Pedrazzi – Professor Titular – Departamento de Materiais Dentários e Prótese – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.
Em mais um episódio triste e épico na saúde/doença da civilização (peste negra, gripe espanhola, H1N1, etc.) convivemos agora com o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Entre acertos e desacertos dos nossos governantes em âmbito mundial, até pela pouquíssima informação baseada em evidências científicas sobre o novo vírus (há falhas e controvérsias em métodos diagnósticos, tratamentos, transmissibilidade e aquisição de imunidade, entre outros), cabe aos Cirurgiões-Dentistas um papel cada vez mais importante para a promoção, preservação e recuperação da saúde. Com essa finalidade, é necessária a aplicação de conhecimentos de boas práticas de higiene bucal, no conceito de redução da contaminação da cavidade bucal. Para isso, cabe a cada um de nós aplicar o conceito de “Odontologia no Âmbito de Saúde Geral“, praticado com muita racionalidade e amor ao próximo, com aplicação dos conhecimentos técnicos e científicos para a orientação de higiene bucal adequada, uma vez que as portas de entrada da infecção pelo Sars-CoV-2 são o trato respiratório superior, a boca (dentes, gengiva, periodonto e língua), faringe (garganta) e pulmões, onde ocorrem os agravos.
A atuação do Cirurgião-Dentista na eliminação ou diminuição dos patógenos bucais pode prevenir efeitos sistêmicos como AVC, tromboembolismos (diminuindo o processo inflamatório em doenças bucais), diabetes (que diminui a resposta imune e sujeita o paciente a processos inflamatórios), pneumonias por aspiração, problemas com prematuridade em partos ou mesmo abortos. Para isso, concorrem os micro-organismos, os processos inflamatórios, a genética e o comportamento (tabagismo e etilismo).
Assim, deve-se combater os biofilmes que colonizam ecossistemas bucais, com maior ênfase para o dorso da língua, e também dentes, principalmente posteriores (e mais difíceis de higienizar), pois a pneumonia bacteriana muitas vezes é o resultado da aspiração da microbiota da orofaringe para o trato respiratório inferior, quando da má higiene bucal ou mesmo da falha dos mecanismos natos de defesa. Desta forma, devemos hierarquizar a higiene bucal e das escovas dentais/higienizadores linguais.