18
ABR
2020

Odontologia hospitalar já em todo Brasil

A Federação Nacional dos Odontologistas /FNO atendendo solicitação de vários Cirurgiões Dentistas do Brasil encaminhou ao Excelentíssimo Senhor DR. NELSON TEICH Digníssimo Ministro da Saúde do Brasil ofício requerendo a ampliação da Odontologia Hospitalar nos hospitais de todo o Brasil. Considerando a necessidade do fortalecimento da Política Nacional de Saúde Bucal no Brasil para dar suporte aos pacientes com COVID-19 e aos demais pacientes críticos, internos nas unidades hospitalares (Unidades de Terapia Intensiva – UTI’s, apartamentos e enfermarias), a Federação Nacional dos Odontologistas – FNO solicitou parecer técnico das Cirurgiãs-dentistas e Professoras, Dra. Glória Maria Pimenta Cabral, CRO 2928-PB, Especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (2005), Mestrado em Clínica Odontológica (2007), Doutorado em Odontopediatria (2013), Habilitação em Odontologia Hospitalar pelo CFO e da Dra. Karyna Galvão, CRO 2879-PB, Mestre, Doutora em Odontologia, Habilitada em Odontologia Hospitalar pelo CFO. 
Diante da pandemia instalada pelo vírus SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2) que causa a COVID-19 (Coronavirus Disease 2019), desde dezembro de 2019, a necessidade de UTI nesses pacientes é de 12%. Foi observado um aumento da necessidade de intubação orotraqueal para tratamento das pessoas infectadas, merecendo uma maior atenção odontológica. Observou-se também, que há concentração do vírus na orofaringe, o que requer cuidados especiais.A dificuldade ou impossibilidade de autocuidado (controle do biofilme oral), presença de intubação orotraqueal, deficiência imunológica, alterações hematológicas diversas, uso de medicamentos, condições que induzem hipossalivação e a ocorrência de fissuras orais, estão entre as alterações que levam ao aparecimento e/ou agravamento de doenças bucais (BERALDO e ANDRADE, 2008).Uma revisão sistemática realizada por Terezakis e colaboradores e publicada no periódico Journal of Clinical Periodontology, em 2011, reportou o impacto negativo hospitalização na saúde oral dos pacientes em função do excessivo acúmulo de biofilme, inflamação gengival, alterações salivares, e entre outros achados, que predispõem à Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV) nos pacientes intubados.As doenças bucais mais comuns, como cárie e doença periodontal, são causadas por microrganismos bacterianos, que podem acometer o trato respiratório (pulmões), através de inalação ou aspiração de secreções orofaríngeas, que, muitas vezes, são facilitadas pela existência de tubos endotraqueais, causando a PAV, sendo uma complicação frequente em pacientes críticos e com ventilação mecânica. Ela é responsável por elevada morbidade e mortalidade hospitalar, além de aumentar o tempo de internação e custo do tratamento (PINEDA et al, 2006).Outra alteração bastante comum em indivíduos hospitalizados é o aparecimento de lesões na mucosa oral, advindas de infecções ou traumatismos. A imunodeficiência apresentada por esses pacientes, durante a hospitalização, torna-os mais susceptíveis a infecções fúngicas (Candidose) ou virais (Herpes Vírus, Citomegalovírus). O trauma causado por dentes, próteses dentárias ou tubo orotraqueal, também são frequentes em indivíduos com alterado nível de consciência e podem acarretar complicações graves, como sangramentos abundantes, bronco-aspirações e grandes lacerações de tecidos moles bucais e língua. Não podemos nos esquecer dos indivíduos que são classificados como “via aérea difícil”: Mallampati III ou IV, limitação de abertura bucal, obesidade, próteses nos dentes anteriores e elementos dentários com extensas restaurações, entre outros. Esses pacientes estão mais propensos a lesões orais graves, durante o processo de intubação orotraqueal.As infecções sistêmicas inespecíficas, sem causa conhecida, podem também estar associadas a processos agudos ou crônicos presentes na cavidade oral. Conforme a NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/ANVISA Nº04/2020, foi recomendada a não realização da oroscopia, a menos que o paciente apresente sinais e sintomas de alterações bucais que gerem implicações sistêmicas como infecções agudas, lesões na mucosa, sangramentos e travamento mandibular, ou a pedido médico. Porém, a não inclusão de exames bucais de rotina a serem realizados pelo CD, durante a admissão e permanência dos pacientes em serviços de cuidados especiais (Hospitalares), retardam o diagnóstico e tratamento. É também importante a busca ativa de riscos para trauma, evitando, através de dispositivos, complicações que podem ser agravadas em pacientes com alterações hematológicas e/ou usando medicamentos anticoagulantes.Nos pacientes assistidos nos apartamentos e enfermarias é importante o exame clínico inicial e orientações para os cuidados bucais diários utilizando medicamentos para o controle eficaz do biofilme.Diante do exposto, requeremos e faz-se necessária a implantação do serviço de Odontologia Hospitalar, para melhorar a assistência aos pacientes críticos acometidos pela COVID-19 ou por outras alterações, que necessitem de hospitalização. Sobre as UTI’s direcionadas, exclusivamente, para o atendimento dos pacientes mais graves, com suspeita ou confirmação da COVID-19, existe a seguinte orientação: NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/ANVISA Nº04/2020 para que as equipes sejam reduzidas (médico, enfermeiro e fisioterapeuta) pelo risco de infecção. No entanto, se forem tomadas todas as medidas de biossegurança, uso da paramentação indicada e retirada dos EPI’s de forma correta, esse risco é minimizado.A presente proposta consiste na ampliação do serviço terciário, viabilizando uma adequada atenção odontológica aos pacientes assistidos em unidades hospitalares, a fim de minimizar possíveis complicações locais e sistêmicas associadas à cavidade oral.Em face da proposta de inserção do Cirurgião-Dentista como profissional integrante da equipe multiprofissional, que presta assistência ao paciente acometido pela COVID-19 nas Unidades de Terapia Intensiva, enfermarias e apartamentos, esperam-se os resultados descritos abaixo:1. Redução de ocorrência da PAV (o adequado controle químico e mecânico do biofilme bacteriano presente na cavidade bucal dos pacientes é um fator importante);2. Diagnóstico, tratamento e prevenção de lesões fúngicas, virais e/ou traumáticas em tecidos moles bucais;3. Diagnóstico e tratamento de processos infecciosos orais agudos ou crônicos associados a complicações sistêmicas;4. Melhorar a qualidade de vida dos pacientes críticos assistidos;6. Reduzir o tempo de permanência na UTI, diminuindo os custos da internação.  A FNO espera estar contribuindo para que possamos vencer esse momento tão difícil para o mundo, ao mesmo tempo requer acatamento.
JOANA BATISTA OLIVEIRA LOPESPresidenteERNANI BEZERRA DA SILVASecretário Geral